quinta-feira, abril 20, 2006

Recordações de uma madrugada gloriosa...


Saímos de Sta. Margarida pelas 02:00h da manhã do dia 25 de Abril, por uma picada estreita, até à nacional, em direcção à Golegã. Aí, encontrámo-nos com uma força pitoresca de engenharia de Tancos.
Eram muitos carros, aparatosamente armados, com um condutor e um praça. O aparato bélico era arrasador. Tenho a certeza que nada funcionaria, caso fosse necessário. O aspecto era fundamental para impressionar os paisanos. Seguimos em direcção a Almeirim e, depois, até à ponte de Vila Franca de Xira. Era o nosso primeiro objectivo. Segurar e defender a Ponte até que fossem recebidas ordens para abandonar o local.
No caminho para Almeirim, adiantei-me da cabeça da coluna. Tinha recebido informações do Tenente Pessoa que a GNR poderia tentar interceptar-nos à entrada da vila. A minha Berlliet deu uma volta, pelo largo da Tourada e nada vimos. Apenas, num virar de esquina, apercebi-me de um verdelhão que sprintava forte na sua pasteleira. Rimo-nos do espectáculo com receio de espantarmos mais o homem que, de certo, o medo lhe chamuscava as coadas das calças de caqui poído. Era a imagem de um Estado Novo a cair de podre. Mais animados, juntámo-nos à cabeça da coluna que tinha feito alto, esperando pelo nosso regresso.
Quando ocupámos a Ponte, apeteceu-nos experimentar um primeiro gesto de liberdade. Retirar os funcionários das cabines e instituir a livre circulação de veículos nos dois sentidos. Os camionistas que, entretanto, atravessavam a Ponte Carmona, não se continham em agradecimentos e aclamações, atónitos com a nossa presença e com as primeiras notícias e comunicados.
A partir daí, nunca mais ninguém pagou portagem. A Ponte ficou livre para todos e para sempre.
Foi o primeiro contributo da Companhia de Caçadores 4246 para a construção do Portugal democrático. Que saudades...
Um forte abraço a todos os elementos dessa Companhia de heróis anónimos. Foi há 32...

3 comentários:

Anónimo disse...

Foi bom ler-te. É bom ter-te de regresso às palavras. É bom saber que há mãos que aínda sabem desenhar os caminhos da liberdade.
Obrigado companheiro !
abraço (hp)

Anónimo disse...

eu também estava lá guardo na minha memória muitas recordações desse dia. joão guterres geral@decantervinho.com

Anónimo disse...

gostaria contactar camaradas da 4246. joão guterres