sábado, outubro 15, 2005

Coisas que se dizem em voz baixa...

Estava há pouco a ler um texto sobre uma série de medidas implementadas, em turbilhão, pela actual ministra da Educação, quando resolvi escrever algumas frases sobre a forma como vejo, neste momento, o funcionamento do novo ano lectivo.
A primeira, significa tempestade, furacão, ciclone de medidas e contra-medidas, “artigos setenta e nove” mais “estabelecimentos”, despachos para cá e para lá, horários que facilitam uns e arrasam outros, depressões, disfunções nervosas e físicas, nervos à flor da pele. Enfim, um rosário de múltiplas situações que anunciam tempos difíceis para a vida dos docentes, vítimas e bodes expiatórios dos pecados das “elites” governantes.
A segunda, confusão repetida e recorrente. Já não se sabe ao certo que medida ou que determinação estará correcta ou dentro da legalidade. O que ontem era verdade, hoje há dúvidas… talvez seja uma das tais “coisas”, “regalias”, desigualdades a que nos tinham habituado, ao que parece, levados ao “engano”. Afinal, as tais asneiras cometidas no passado, traduziram-se, de facto, em irremediáveis erros históricos. Os professores deveriam ter sido tratados como meros funcionários ou empregados fabris. A produção é a peça fundamental desta economia dita “social” e “humana”. Que me perdoem os operários, não pretendi menosprezar a sua actividade. Nem todos podemos fabricar o mesmo tipo de coisas, nem tão pouco, executar o mesmo tipo de actividades.
A terceira, uma questão de existência. Se não há alunos, a função docente desaparece...
Como pode existir uma coisa sem a outra?
Vejamos, então, a realidade. Uma escola da periferia de uma cidade de média dimensão, onde os alunos possuem, apenas, duas tardes livres, no seu horário semanal. Com as substituições, deixam de ter furos. Até aqui, tudo bem. Todo o currículo é ocupado com as aulas normais e com aulas de substituição ou "entretenimento", na falta do docente. Os alunos só poderão "respirar", nas tais, duas tardes, destinadas, em grande parte, às actividades lúdicas, desportivas ou culturais que, por opção, poderão usufruir na sua localidade. ( conjunto de actividades que poderão constituir o universo da oferta autárquica, muito badalada nos programas dos candidatos, nas últimas eleições, ou até mesmo outras de carácter privado). Assim sendo, a Escola, em concorrência directa com a oferta autárquica ou privada, vê-se confrontada com uma série de dificuldades. Na hipótese dos alunos ficarem na Escola, para frequentarem actividades extracurriculares ou de enriquecimento, dificilmente teriam transportes, em horas diferentes, dada a diversidade da oferta, tendo em conta a aplicação das horas disponíveis nos horários dos docentes, que articulariam esses tempos em função do cumprimento, escrupuloso, dos despachos. A tudo isto, acrescenta-se, ainda, a necessidade de um maior número de almoços na Escola, por parte desses alunos.
Tendo em conta esta realidade, a opção de manter os alunos na Escola, fica entregue, totalmente, ao critério da família ou do Encarregado de Educação e, em certos casos, do próprio aluno.
Desta maneira, os professores com horas de "artigo setenta e nove", "estabelecimento", "despacho", "componente lectiva e não lectiva", dificilmente terão alunos para acompanhamento, fora dos horários estabelecidos. Para que tal aconteça, é necessária a presença dos alunos na Escola, o que não tem acontecido. Será que os alunos fazem, sistematicamente, greve?
As famílias e os alunos, até ao momento, não têm correspondido às propostas e iniciativas da escola. Anuncia-se, a breve prazo, a submissão da Escola à família, numa tentativa de a influenciar ( completo exagero). O que é um facto é que os alunos não aparecem na Escola, nas tais duas tardes livres que têm nos seus horários.
Ora, um professor com tanta disponibilidade, não tem o motivo lhe garante a existência como tal. Não tem alunos disponíveis, embora tenha horas pré-destinadas às actividades extracurriculares.
Custa-me admitir que, tais políticas populistas e serôdias, embarquem em aventuras demagógicas, destruindo tudo à sua volta, num corropio onde vale tudo, ultrapassando-se, ora pela esquerda, ora pela direita, um dos mais altos valores da sociedade. A educação dos futuros cidadãos deste país. Desta forma, não haverá paz, tranquilidade e Escola que aguente. É necessário parar, repensar e agir, enquanto é tempo.

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